quinta-feira, 17 de abril de 2014

Valorizaçãode cabelos crespos naturais

 

ALÉM DO FIO - A ESTÉTICA NEGRA E O RACISMO

“Para além dos fios”, artigo da Marcelle Felix, do Observatório de Favelas, discute o uso do cabelo crespo e black power e o combate ao racismo, além de compartilhar experiências de coletivos e pesquisas que usam as representações do cabelo nas suas atuações e discussões 

Para alem dos fios

Favela 247 − Artigo publicado por Marcelle Felix , da comunicação do Observatório de Favelas, organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP) localizada no conjunto de favelas da Maré, discute a estética negra por meio da representação do cabelo black power.

Além de discutir as relações sociais, o racismo e o desafio daquele que decide reafirmar a sua essência usando o cabelo afro de forma natural, Marcelle compartilha a experiência e discussões de coletivos e pesquisas na área.

Um desses coletivos é o “Meninas Black Power”, do Rio de Janeiro, que busca a valorização dos cabelos crespos naturais, apresentando diversos penteados e formas de usa-lo, além de promoverem debates e campanhas de reconhecimento e uso do cabelo afro em visitas a escolas de todo o país, priorizando os territórios periféricos.

Na área acadêmica, a pesquisa desenvolvida por Nilma Gomes e publicada no livro Corpo e Cabelo Como Símbolos da Identidade Negra (2006, editora Autência) é citada por Marcelle, afirmando que o cabelo afro e a cor da pele negra ganharam um significado supra indivíduo, atingindo o grupo étnico que pertence, em especial para as mulheres negras.

O artigo segue discutindo e apresentando visões sobre a significação do cabelo afro e o desdobramento de grupos, coletivos, indivíduos e discussões que buscam ampliar o seu reconhecimento e combater o racismo.

 

Para além dos fios

No Brasil, onde é possível perceber uma grande variedade de fenótipos, o conjunto cor da pele e cabelo se torna um dos principais divisores de água no que diz respeito à classificação do que antes chamávamos de raça. De acordo com a pesquisa de Nilma Gomes no livro Corpo e Cabelo Como Símbolos da Identidade Negra, o fenótipo de uma pessoa não pode ser considerado como um simples conjunto de elementos biológicos, porque são eles que expressam racismo e desigualdade racial.

Apesar de os brasileiros serem em sua maioria pretos e pardos, o padrão de beleza corporal é branco. Portanto, no Brasil – para além da origem – a cor da pele, a textura do cabelo e os traços físicos são características fundamentais para determinar se um indivíduo pode sofrer mais ou menos racismo. Nesse contexto, segundo os estudos de Nilma Gomes, a cor da pele e o cabelo afro ganham um significado que ultrapassa o indivíduo para atingir o grupo étnico ao qual pertence, tomando ainda maior importância para mulheres negras.

Apesar do preconceito, há um grupo de mulheres que segue na valorização da estética negra e na reafirmação do cabelo afro. A blogueira Yasmin Thayná, de 21 anos, que passava química nos cabelos desde os cinco anos de idade, explica de forma poética no seu conto Mc K-bela a sucessão de ofensas direcionadas aos seus cabelos desde a infância e sua trajetória para abandonar a química e deixar seus fios naturais.

A blogueira afirma que não gostava de passar produtos químicos no cabelo, “Nunca me senti bonita usando aquilo porque era uma sessão de horror mesmo, é muito ruim não deixar alguém escolher ser quem gostaria de ser”, disse. Para ela, o processo de alisamento dos fios se apresenta como uma imposição para as mulheres negras, enquanto deveria ser uma questão de escolha.

Hoje em dia, Yasmin usa o seu conto, sites da internet, além de fazer um filme sobre essa temática da estética negra para ressignificar e revalorizar o cabelo crespo, que costuma ser visto de forma estigmatizada. “Para mim, o cabelo afro é símbolo da minha resistência como mulher negra. Mc K-bela é um personagem que inventei e que conta a história de todas as meninas negras de periferia (várias me escreveram dizendo que passaram pelo mesmo do que eu)”, contou.

Também usando a internet como espaço para valorizar a estética negra, surgem coletivos, como as Meninas Black Power, que estimulam mulheres a valorizarem os fios crespos naturais, mostrando diferentes formas de usar o cabelo e como cuidar dele. O coletivo ainda visita escolas, principalmente em zonas periféricas, em diferentes estados do país ensinando o respeito sobre as diferenças e estimulando o uso do cabelo afro.

Segundo as Meninas Black Power, há um padrão branco de beleza que desvaloriza e oprime mulheres negras. “O coletivo surgiu por notar a forte opressão que há em torno de indivíduos negros, sempre forçando um padrão branqueado e a não aceitação de características que são naturalmente negras”, explicou. Para elas, o cabelo afro conta uma história, além de ser um símbolo de luta e resistência.

De acordo com a pesquisa “Para Ficar bonita tem que sofrer!” – A construção de identidade capilar para mulheres negras no nível superior realizada pela socióloga Luane Bento dos Santos, o cabelo ultrapassa o campo do individual para atingir o coletivo. Segundo seus estudos, o cabelo é signo de representação cultural consciente ou inconsciente em diversas sociedades. Por meio de penteados, raspagem, ou do ato de não pentear os cabelos para que embolem, as culturas exercem distinções de sexo, classe, religião e etnia.

Ainda segundo a pesquisa, o cabelo faz parte não só de um componente estético, mas também cultural, podendo atingir os campos religioso, étnico, social, político e das preferências pessoais – que estão relacionadas direta ou indiretamente à classe social. Além disso, a pesquisa mostra que os fios podem se relacionar às demarcações e às delimitações internas hierárquicas das sociedades. Sendo um dos símbolos mais notáveis de identidade individual e social o cabelo consolida o significado do seu poder por ser físico e pessoal; e também por, apesar de pessoal, ser mais público do que privado.

Dessa forma, os coletivos e militantes que se utilizam de meios de comunicação para valorizar a estética negra e sua história fazem uso de elementos pessoais que extrapolam o pessoal para chegar ao coletivo. “Essa coroa é quem me faz acreditar que precisamos estar fortes. Essa coroa foi quem me deu a chance de me olhar no espelho após mais de dois anos sem conseguir olhar para mim e dizer: como estou bonita! Como somos lindas! Porque o mais importante de ser bonita é se sentir bonita.”, concluiu Yasmin Thayná.

Fonte Por Marcell Felix para o Observatório de Favelas

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Lincoln ferido mortalmente 14 de abril de 1865

 

Somente uma semana depois da capitulação do general sulista Robert Lee, rendido com seu exército, na Virginia, terminando com a Guerra Civil americana, no dia 14 de abril Abraham Lincoln é ferido mortalmente. John Wilkes Booth, partidário fervoroso dos sulistas atira no presidente que morre na manhã seguinte. Lincoln falece antes de poder assistir à ratificação da 13ª Emenda à Constituição dos Estados Unidos que aboliu a escravidão

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Atentado Lincoln

Lincoln e a escravidão

Abraham Lincoln é muitas vezes referida como "O Grande Libertador" e, ainda assim, ele não assumiu publicamente a defesa da emancipação durante toda a sua vida. Lincoln começou sua carreira pública, alegando ser "abolicionista" - contra a expansão da escravidão, mas não pedindo emancipação imediata. No entanto, o homem que começou como "abolicionista" finalmente emitiu a Proclamação de Emancipação, libertando todos os escravos nos estados sulistas que estavam em rebelião. Apoiou vigorosamente a 13 ª Emenda, que aboliu a escravidão nos Estados Unidos, e, no último discurso de sua vida, ele recomendou estender o voto aos afro-americanos. Os discursos mostram um dos seus maiores trunfos: A capacidade de mudar sua posição pública sobre a escravidão

Funeral

Abraham Lincoln discursa em sua primeira inauguração em 04 de março de 1861 no Capitólio dos EUA, que ainda estava em construção, em Washington DC -

Uma amizade incomum -

Lincoln & Frederick Douglass

Uma das amizades mais importantes que se desenvolveram durante esse conflito (1861-1865) foi entre o presidente Abraham Lincoln e abolicionista negro Frederick Douglass.

Imediatamente após o início da guerra civil em abril de 1861, Douglass começou a apelar para o uso de tropas negras para combater a Confederação. Defendeu a criação de regimentos negros no exército da União. A primeira preocupação do presidente Lincoln foi a preservação da União, e não aceitou o pedido de Douglass.

escravo

Escravo açoitado na Lousian, fugiu e foi lutar contra os Confederados (Sulistas 1863)

Lincoln acreditava no principal objetivo do Norte era preservar a União e não acabar com a escravidão. Ele proclamou:

" Meu objetivo primordial nesta luta é salvar a União, e não entre resguardar ou destruir a escravidão. Se eu pudesse salvar a União sem libertar qualquer escravo, eu o faria, e se eu pudesse salvá-la libertando a todos, eu o faria; e se eu pudesse salvá-la libertando alguns e deixando outros, eu também o faria. O que eu faço referente à escravidão, e à raça de cor, faço porque acredito que ajuda a salvar a União; e ao que se dá minha resistência é porque acredito que não ajudará ...”

APOIO À LINCOLN

Apesar da política pró-escravidão aparente da administração Lincoln, Douglass foi fervoroso trabalhando e apoiando o Presidente. Sábio o suficiente para entender que, se Lincoln no início, havia declarado sua política, não só para salvar a União, mas também para libertar os escravos, senão nada se conseguiria. Nos discursos Douglass enfatizava "a missão da guerra foi a libertação dos escravos, assim como a salvação da União. Reprovava o Norte que lutava só com uma mão contra a escravidão, enquanto podiam lutar de forma mais eficaz com as duas.

Apelou tanto que a guerra assumiu uma atitude antiescravagista e os negros foram convocados para lutar ao lado da União.

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Em julho de 1863, Douglass se reuniu com Lincoln na Casa Branca para aliviar o sofrimento que as tropas negras estavam sofrendo como cidadãos de segunda classe. Foi inédito para um homem negro ir à Casa Branca com uma queixa. Mas tinha muitos amigos e admiradores influentes em Washington, caminho aberto e seguro para dialogar com Lincoln. Logo descobriram que tinham muito em comum. Douglass feito um caminho longo e difícil a partir de escravo em Maryland, e Lincoln um espinhoso caminho da vida dura e áspera no Kentucky, para o alto cargo de Presidente. Um grande demais para ser um escravo, e o outro nobre demais para permanecer, em uma crise como nacional, um cidadão privado.

Antes do final da guerra, muitos soldados negros recebiam igualdade de remuneração e promoções. Durante os últimos dois anos da guerra cerca de 200 mil afro-americanos serviram em regimentos da União. Tendo chance de lutar, os negros se mostraram tão corajoso como ninguém. Mais de 30.000 morreram lutando pela liberdade e pela União (Norte).

Fontes:National Park Service, William Connery e Wikepedia

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Semana de luto em Ruanda: Genocidio de 1994

 

Genocídio de 1994 azeda relações entre a França e o Ruanda

 

 

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O verniz estalou. A França anulou a deslocação da sua ministra da Justiça ao Ruanda, para a cerimónia de evocação do genocídio de 1994, depois de o Presidente do país africano, Paul Kagame, ter acusado as autoridades de Paris e a Bélgica, antiga potência colonial, de participação nos massacres em que, há 20 anos, entre Abril e Julho, foram mortas cerca de 800 mil pessoas.

Numa entrevista publicada este domingo na revista Jeune Afrique – exactamente 20 anos após o derrube por um míssil do avião do então Presidente ruandês, o hutu Juvenal Habyarimana, a que se seguiu o início do genocídio – Kagame denunciou o “papel directo” dos dois países europeus na “preparação política do genocídio”. No caso da França foi mais longe, acusou-a de ter participado na sua “execução”.

Paul Kagame, à época líder dos rebeldes da Frente Patriótica Ruandesa, maioritariamente tutsis, acusou também soldados franceses participantes na operação militar-humanitária Turquoise, desencadeada em Junho de 1994, sob mandato das Nações Unidas, no Sul, de terem sido “cúmplices” e “actores” de massacres.

A entrevista confirma o que se sabia, que o apaziguamento entre os dois países e a reconciliação de 2010 – quando o então Presidente francês, Nicolas Sarkozy, reconheceu “graves erros de apreciação” em 1994 – era apenas aparente. E que o genocídio de tutsis, mas também de hutus moderados, continua a envenenar as relações bilaterais.

O incidente é uma espécie de repetição do que aconteceu há dez anos, quando, na cerimónia oficial, em Kigali, Kagame atribuiu a Paris a “audácia de não pedir desculpa” e a delegação francesa encurtou a permanência no Ruanda. Já depois disso, o dirigente africano aludiu, em várias outras ocasiões, ao suposto envolvimento da França.

Na sequência das declarações do dirigente africano, a França cancelou a deslocação a Kigali da ministra da Justiça, Christiane Taubira, e disse que as palavras de Kagame surgem “em contradição com o processo de diálogo e de reconciliação”. Paris informou que se faria representar pelo seu embaixador em Kigali, mas o Governo ruandês declarou-o persona non grata nas cerimónias. “O Ministério dos Negócios Estrangeiros telefonou-me à noite para me dizer que eu já não tinha acrediração”, explicou à AFP o embaixador Michel Flesch. “Quando perguntei se podia ir ao memorial de Gisozi para colocar uma coroa de flores responderam-me que não”.

Ruanda 2

O ministro dos Negócios Estrangeiros da época, Alain Juppé, denunciou uma “falsificação histórica” e apelou ao Presidente, François Hollande, para “defender a honra da França”. Juppé considera que “a comunidade internacional falhou, é um facto”, porque foi “incapaz e prevenir e travar o genocídio” mas – acrescentou – “a comunidade internacional não é apenas a França”.

 

Já depois da reacção francesa, a ministra dos Negócios Estrangeiros do Ruanda, Louise Mushikiwabo, fez um sublinhado às declarações do seu Presidente. A França, que apoiava o regime em 1994, deve “olhar a verdade de frente”, disse.

A Bélgica manteve os planos iniciais, apesar de ter marcado a distância para com as autoridades de Kigali. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Didier Reynders, invocou à televisão RTBF as conclusões de um inquérito belga que atribuiu a preparação do genocídio a “grupos extremistas ruandeses” e confirmou que estará em Kigali para “lembrar a memória das vítimas e das suas famílias” e não para “prestar homenagem ao actual Governo”. Com ele viajaram familiares de 22 vítimas belgas – dez paraquedistas mortos a 7 de Abril de 1994 juntamente com Agather Uwilingiyimana, o primeiro-ministro ruandês que protegiam, e 12 civis.

Ruanda genocidio

Mistério por esclarecer
Duas décadas depois está por esclarecer quem disparou o míssil que derrubou o Falcon 50 que o Presidente francês, François Mitterrand, oferecera Habyarimana, e em que também morreu Cyprien Ntaryamira, Presidente do Burundi. Sabe-se apenas que foi a queda do avião e a morte do chefe de Estado que precipitou um genocídio antecedido por semanas de propaganda assente no ódio.

As investigações em França têm, como explicava no sábado o diário Le Monde, explorado diferentes hipóteses de autoria da queda do avião: dos então rebeldes de Kagame, em plena ofensiva contra o governo; a extremistas hutu, descontentes com disponibilidade de Habyarimana para partilhar o poder com os tutsis.

Após 6 de Abril de 1994 sucederam-se meses de violência sem limites. “A escala de brutalidade do Ruanda continua a chocar: uma média de 10.000 mortos por dia, todos os dias, durante três meses”, recordou, citado pela AFP, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, que estará em Kigali.

fonte: http://www.publico.pt/

VEJA MAIS IMAGENS EM http://www.publico.pt/mundo/noticia/genocidio-de-1994-azeda-relacoes-entre-a-franca-e-o-ruanda-1631250#/0

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Campos de Concentração Indígenas na Ditadura

Ditadura criou campos de concentração indígenas

Índios foram submetidos a trabalhos forçados e torturas. Reparação de crimes cometidos nas aldeias ainda é pouco debatida. Veja minidocumentário

De 1969 até meados da década de 1970, a Fundação Nacional do Índio (Funai) manteve silenciosamente em Minas Gerais dois centros para a detenção de índios considerados “infratores”. Para lá foram levados mais de cem indivíduos de dezenas de etnias, oriundos de ao menos 11 estados das cinco regiões do país. O Reformatório Krenak, em Resplendor (MG), e a Fazenda Guarani, em Carmésia (MG), eram geridos e vigiados por policiais militares sobre os quais recaem diversas denúncias de torturas, trabalho escravo, desaparecimentos e intensa repressão cultural. Os presos incluíam até mesmo indivíduos que lutavam contra a invasão de áreas hoje oficialmente reconhecidas como território indígena.

Muito pouco se divulgou sobre o que de fato acontecia nesses campos de concentração étnicos. Se a reparação dos crimes cometidos pela ditadura nas cidades brasileiras ainda engatinha, nas aldeias situação é ainda pior. Até hoje, nenhum índio ou comunidade indígena foi indenizado pelos crimes de direitos humanos ocorridos nesses locais. Nunca houve qualquer manifestação formal do Estado brasileiro reconhecendo a existência de tais crimes.

Por André Campos

Acusações de vadiagem, consumo de álcool e pederastia jogaram índios em prisões durante o regime militar; para pesquisadores, sociedade deve reconhecê-los como presos políticos

Minidocumentário originalmente publicado em junho de 2013 na reportagem Ditadura criou cadeia para índios com trabalho forçado e torturas, do Concurso de Microbolsas de Reportagem da Pública.

Fonte Reporter Brasil