segunda-feira, 2 de novembro de 2015
Parada Preta Paulista.
Quanto dói uma morte? E quando não são uma, duas, três, quatro...
Semana passada foi a morte do haitiano Fetiere Sterlin, assassinado em Navegantes Santa Catarina com 10 facadas, perto de sua casa junto com sua mulher brasileira. Ontem no dia 31 de outubro foi o jovem angolano Jocéu Wando Capilo estudante intercambista de engenharia que veio realizar seu sonho de se formar e voltar à Angola. Sonhos de jovens querendo se estabelecer no país, sonhos de quem vê a educação como forma de construir um futuro melhor. Sonhos perdidos, despedaçados.
Como não lembrar dos da jovem Zulmira Cardozo, angolana, que formada queria comemorar, sua graduação e voltar para Angola, e ao encontrar seus amigos num bar do Brás onde a comunidade angolana se estabeleceu foi morta em 2012 com um tiro na testa. Cinco estudantes alvejados uma jovem grávida, e três rapazes. Não só foi a morte de Zulmira, seu namorado veio a falecer meses depois, com o peso de carregar de não ter sido morto em lugar da namorada.
Africanos e caribenhos não são bem-vindos no Brasil, o que os encanta do maior país negro de mundo, o Brasil com 60% da população de origem afro-brasileira (preta, negra, morena ou seja lá o termo que você prefira) tem um sério problema de desigualdade social, onde esses 60% são excluídos da sociedade e remanejados para as periferias das grandes cidades. O que os atrai como a luz, os prejudica, excluí e os mata...
O Brasil até os anos 60 era uma grande fazenda, os imigrantes europeus vieram para ocupar os lugares dos escravizados, fugidos de guerras e a fome das grandes migrações que o distúrbio pós guerra causa, vieram por serem uma mão de obra mais barata no capitalismo. Onde você usa uma mão de obra assalariada, e a descarta quando não necessita ou não é mais útil. Sem necessidade de comprar o escravizado, e cuidar dele quando fosse necessário, mais fácil usar a mão de obra excedente e farta na Europa e Ásia. E o que fazer com os descendentes de escravizados?
Uma política de contenção e marginalização nas periferias. Onde as prisões são mais importantes que as escolas. Onde os bandos de capitães do mato, transformaram-se em milícias, e as chacinas são a forma de conter pelo medo a população pobre, negra e periférica.
Hoje domingo 1º. de novembro, os descendentes de Dandara, Zumbi, Nzinga e Toussaint Louverture uniram-se para protestar pelas mortes e violências contra imigrantes africanos e caribenhos, filhos da Diáspora Africana, brasileiros, haitianos, congolenses, angolanos numa manifestação no Vão Livre do Masp, mesmo lugar onde uma manifestação cobrava quem matou os jovens da Chacina dos 19 na Grande São Paulo. Organizado pelo VOHA Voluntários Amigos dos Haitianos, presentes diversas entidades e movimentos sociais.
Som de um coração enlutado, batia o tambor de Claudete
Um tambor monocórdico, som de um coração enlutado cobrava o descaso no recebimento e acolhimento desses imigrantes. Uma militante Claudete Alves lembrava que somos um país de imigrantes, onde os donos da terra indígenas e africanos escravizados vivem marginalizados.
Um usuário das barracas de antiguidades, de dedo em riste e atitude ameaçadora tentou calar o som do tambor e a voz dolorosa de quem lamenta os seus mortos. Mulatas tipo exportação de biquínis, e negros sorridentes fazendo música para ioiô dançar são bem-vindos, cidadãos cobrando seus direitos, são negros não são cidadãos.
Arquétipo guerreiro, em defesa da imagem da mãe, mulher, filha, companheiras cobrou rijo o direito:
“ – Quem é você para silenciar a voz dessa mulher que nos representa?
- Cala a boca racista. ”
Tranquila manifestação, presença constante a presença negra se fará na Paulista nos domingos. Ocupando espaços, onde a visibilidade negra, unida com seus parceiros grita pela inclusão e liberdade. Brasil onde todos têm sangue negro, uns no corpo e mente, outros nas mãos.
Paulista com Itapeva – Parada Preta na Paulista
Unidos num espaço de liberdade no novo espaço dos paulistanos aos domingos, Avenida Paulista com rua Itapeva, uma ocupação como nos tempos da 24 de Maio, ou frente o Mappin um ponto de encontro de arte, cultura e alegria negra da Diáspora Africana em São Paulo: “Parada Preta na Paulista” #paradapretanapaulista
Hugo Ferreira Zambukaki
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário