Bandeirante conta como destruiu Palmares ( 1694)
1694
Destruição de Palmares
Durante quase cem anos, o quilombo dos Palmares, na serra da Barriga, hoje estado de Alagoas, resistiu às expedições militares enviadas pelos senhores de engenho e autoridades brancas, fossem elas portuguesas ou holandesas. Inicialmente, o quilombo não passava de uma pequena aldeia, com apenas algumas dezenas de escravos fugidos das plantações de açúcar da região. Mas cresceu a tal ponto que, em 1670, contava com 50 mil habitantes, em dezenas de vilas fortificadas, espalhadas por vasta área. Temendo que o exemplo de Palmares terminasse inviabilizando o regime de trabalho escravo, o governo português determinou sua liquidação a qualquer custo. O bandeirante paulista Domingos Jorge Velho foi contratado para levar a cabo a missão, recebendo carta branca das autoridades. Palmares deixou de existir em fevereiro de 1694, com o massacre de seus defensores, mas o chefe dos quilombolas, Zumbi escapou ao cerco e ainda resistiu nas matas por mais um ano, até ser morto. As cartas abaixo, de Domingos Jorge Velho, informam às autoridades sobre o cerco e a destruição de Palmares.
Primeira carta
“ ... Certifico que assistindo neste sertão do Palmar, fazendo guerra aos negros levantados que nele habitam, vendo-os fortificados com uma cerca tão grande e com inumerável poder deles juntos dentro dela, me foi forçoso pedir ao senhor governador e capitão general Caetano de Melo e Castro me socorresse com gente para poder de uma vez acabar com os ditos negros, e o fez o dito senhor tão prontamente que com todo o segredo e brevidade chegou o dito socorro de gente paga e ordenanças em 15 de janeiro e a 16 marchei a pôr em sítio o dito negro que constava a sua cerca de uma légua em roda, e me pus em um plaino sobre a dita serra, e na fronteira de outro plaino mandei a situar o capitão-mor Bernardo Vieira de Melo por ser a parte de mais risco. (...) e por indústria sua fabricou uma cerca com os escravos e soldados em roda da dos ditos negros que constava de duzentos e setenta braças de pau-a-pique a cuja imitação foram os mais cabos fazendo o mesmo nas suas testadas que defendiam sendo por esta sua indústria lograda a melhor segurança do dito sítio, sendo em 23 do dito mês que fiz a primeira avançada ao dito negro que não pude romper nem chegar à dita cerca pelos inumeráveis fossos e estrepes que tinham (...).
Outeiro do Barriga em 30 de janeiro de 694
Domingos Jorge Velho
Segunda carta
“Certifico que assistindo neste sítio e cerco em que pus aos negros levantados do Palmar depois de estarem em sítio vinte e dois dias no último em que se contavam os ditos vendo-se o dito negro oprimido do dito cerco se resolveu a romper com todo o risco albaroando por duas partes a em que estava o capitão-mor Bernardo Viera de Melo que os rechaçou por estilo que os fez obrigar a despenharem-se por um rochedo, tão inopinável que os mais deles pereceram e se espedaçaram pelo dito rochedo, obrigados das cargas com que os veio sacudindo o dito capitão-mor com sua gente, sendo em duas horas depois da meia-noite, que logo a essa começaram os seus a matar e aprisionar os ditos negros, que ainda lhe feriram três homens com as cargas que lhe deram, dois de balas e um de flecha; e o dito capitão-mor em todo esse dia, desde as ditas duas horas depois da meia-noite, lidou com todos os seus no alcance do dito inimigo, aprisionando e matando muitos, e veio pessoalmente a buscar-me para que desse pessoalmente calor no alcance do dito inimigo o que fiz e em minha companhia andou com tal desvelo e cuidado que não havia cousa que não soubesse advertir e prontamente acudir e se recolheu ao seu posto ao pôr-do-sol com cinqüenta e oito pessoas que me mandou entregar sendo muitos os mortos que os seus pelas brenhas mataram, e no tal dia ainda se lhe estreparam dois homens no alcance do dito inimigo em cujo alcance se mataram mais de duzentos negros e se aprisionaram perto de quatrocentos (...).
Outeiro do Barriga em 8 de fevereiro de 694.
Domingos Jorge Velho”
Terceira carta
“Certifico que depois do sítio em que pus os negros do Palmar na última desesperação, da qual se urgiu a sua total destruição, em a qual se houve o capitão-mor Bernardo Viera de Melo com todo o valor, zelo e boa disposição, no seguinte dia, que foi em o de 7 de fevereiro lançou a primeira tropa em que mandou toda a sua gente que achou capaz de seguirem o alcance de alguns negros que pudessem ter escapado por entre os matos e andaram dois dias correndo a campanha por muitas brenhas e serras, e degolaram aos que puderam pelas tais brenhas descobrir, e trouxeram duas negras prisioneiras, que por mulheres lhes perdoaram a vida (...).
Outeiro do Barriga 9 de fevereiro 1694.
Domingos Jorge Velho.”
Franklin Martinshttp://www.franklinmartins.com.br/estacao_historia_artigo.php?titulo=bandeirante-conta-como-destruiu-palmares-1694
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