sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Genocídio do povo Nuba

O direito de ser NUBA

Relatórios das Nações Unidas e de agências humanitárias denunciam genocídio, tortura,
saques, seqüestros, violações e islamização
forçada do povo nuba no Sudão

história dessa guerra e da nossa resistência está escrita nos joelhos, sobretudo das mulheres." Essas palavras são de Amna Isiah, mulher nuba responsável pela associação Union of Women (União de Mulheres), que, desde 1987, luta pela sobrevivência de sua gente e contra o governo fundamentalista islâmico do Sudão.

"Os joelhos machucados, cheios de marcas e feridas contam como devemos nos arrastar para nos esconder. Quase toda noite, saímos para levar comida e água aos nossos soldados. É nossa tarefa também transmitir informações a respeito dos ataques: quantas bombas, quantos mortos, quantos sacos de milho queimados, quantos bois roubados ..."

O povo nuba é constituído por cerca de 2 milhões de pessoas, divididas em 52 grupos com línguas diferentes. Um milhão deles vive nos Montes Nuba, um território pouco menor que o Estado de Santa Catarina, situado no centro-oeste do Sudão. Os outros Nuba vivem no exterior ou no norte do país, particularmente na periferia de Cartum, a capital.


Milhares de refugiados esconderam-se durante dois anos, nas montanhas, a fim de escapar da guerra. Só desceram para receber ajuda das Nações Unidas

Maior país da África, como nação independente o Sudão é um típico produto da época colonial. Os árabes do norte foram colocados junto com os negros africanos do sul para formar uma só nação.

O poder político e militar concentra-se no norte e, desde o começo dos anos 80, os povos do sul, em sua maioria cristãos ou pertencentes a religiões tradicionais, conduzem uma guerra regular contra os árabes muçulmanos do norte.

Luta armada - Os Nuba são considerados "pagãos" pelos muçulmanos da capital. Por isso, são perseguidos pelo Exército na tentativa de submetê-los à sharia, a lei islâmica. A resistência contra essa opressão concretizou-se em luta armada desde 1987, ano em que passaram a fazer parte do Exército de Libertação do Povo Sudanês (SPLA), que reúne grupos do sul.

A guerra, a seca e os saques no Sudão já causaram a morte de 2 milhões de pessoas. Este é o tamanho de uma tragédia esquecida e pouco noticiada. No começo da guerra civil, o regime de Cartum destruiu totalmente aldeias nuba, saqueou celeiros e dizimou o gado, capturou e executou lideranças comunitárias, professores, agentes de saúde. O objetivo? Provocar medo e insegurança na população, de modo a induzi-la a refugiar-se nos "campos de paz" instituídos pelo governo, que chegam a ser verdadeiros campos de concentração, de espoliação e de extinção da identidade nuba.


Para os Nuba, esta "guerra santa" é incompreensível, visto que entre eles existen muitos cristãos e muçulmanos

Em 1996 a agência African Rights documentou, com uma grande quantidade de provas, a determinação do governo sudanês em exterminar o povo nuba.

No ano seguinte, outro documento apresentado pela Comissão dos Direitos Humanos da ONU, denunciava gravíssimas violações aos direitos humanos: bombardeios aéreos sobre civis indefesos, episódios sistemáticos de redução à escravidão, matança indiscriminada de refugiados, seqüestro de civis e agentes humanitários, campos semeados de minas etc. A lista das violações é extensa.

Em primeiro lugar, nos sentimos parte integrante do povo nuba.
Só depois é que nos sentimos cristãos, muçulmanos ou animistas.

Desde que, há dois anos, começou a extração de petróleo no sul do Sudão, a guerra tornou-se ainda mais brutal por causa dos interesses econômicos envolvidos nesta cobiçada operação. O governo sudanês comprou, provavelmente do Irã, mísseis balísticos de curta distância, que estão sendo usados contra a população.

Para os Nuba, essa jihad (guerra santa) promovida pelo governo de Cartum é algo incompreensível, visto que entre eles existem muitos cristãos e muçulmanos. A pluralidade cultural e religiosa sempre caracterizou esse povo, como também a agilidade com que as pessoas transitam entre as várias culturas. É curioso notar que eles celebram juntos o Natal cristão e o fim do Ramada (festa muçulmana por excelência). "Em primeiro lugar, nos sentimos parte integrante do povo nuba. Só depois é que nos sentimos cristãos, muçulmanos ou animistas", explica Mahmoud Jumula, chefe islâmico da região de Tira.


Soldados do SPLA protegem uma carga de sementes trazidas por uma ONG, porque a população faminta tenta roubá-la para comer

A esse propósito Peter Zakaria Kodi, pastor da Sudan Church of Christ em Kujur, acrescenta: "A religião não é, essencialmentem, uma questão de relações entre pessoas? Os Nuba estavam aqui bem antes da chegada das religiões".

Entre os Nuba, a Igreja católica está em franco crescimento, sobretudo pelo engajamento e pela missão dos catequistas leigos. Por causa da guerra, durante muitos anos as comunidades não puderam contar com a presença de um sacerdote ou de missionário.

Além disso, existem muitos líderes muçulmanos que, apesar das provocações de Cartum, teimam em estreitar laços de amizade com os cristãos. Eles sofreram represálias por suas posições, tendo suas mesquitas queimadas. Os militantes da jihad picharam os muros com a frase: "Se vocês quiserem ser verdadeiros muçulmanos, deixem esse lugar e vão viver nas áreas controladas pelo governo". Mas os muçulmanos solidários com os cristãos rebatem:
"A religião pertence a Deus, não aos homens".

Fonte: http://www.pime.org.br/mundoemissao/direitoshnuba.htm

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